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Luis Paiva

Luis Paiva

terça-feira, 27 fevereiro 2018 17:46

Exames relativos à Carta de Condução

Nas escolas em geral, os alunos disléxicos, com base na legislação existente para o nível básico e secundário (Dec. Lei n.º 3/2008), quando a aprendizagem e participação estão atingidas, por se tratar de uma perturbação com génese neurológica, de caráter permanente (algumas vezes espelhada na falta de dominância de um dos hemisférios cerebrais), gozam do direito de que sejam efetuadas adequações nas condições de avaliação, quer em provas de frequência quer em exames.

Embora haja manifestações diferentes de caso para caso, há áreas cerebrais que respondem com criatividade e de forma pronta, a par de outras que respondem com lentidão (áreas lentas), o que causa desordens no processamento da informação, refletindo-se sobretudo ou no plano auditivo-fonológico, ou no plano percetivo motor, como reconhecimento de direita-esquerda, em noções de espaço e tempo ou na coordenação motora.

Na situação de prestação de provas para obtenção da Carta de Condução - exames de código e de condução – diversas escolas, desde há vários anos, recebem relatórios de profissionais especializados (efetuados pela DISLEX) que descrevem as perturbações de cada caso, para serem enviados à hierarquia superior, a fim de serem efetuadas adequações nas provas dos jovens ou adultos disléxicos, de forma a que, na comprovação dos conhecimentos, haja possibilidade de evitar ou minorar erros causados pelo seu cérebro que processa de forma diferente símbolos e ordens dadas, fazendo trocas muitas vezes inexplicáveis.

Assim, no caso dos examinandos disléxicos, dadas as suas caraterísticas, deverão ser-lhes proporcionadas condições adequadas para uma melhor eficiência no desempenho escrito e prático relativo à condução. Concretamente,

  1. se houver faltas/não completamento nas respostas, na escrita, estas não os penalizarem, dando-lhe a possibilidade de evidenciar o conhecimento por outra forma (exemplo: em oral);
  2. usufruir de mais tempo para o exame, a fim de tudo relerem cautelosamente, para se darem conta de eventuais trocas;
  3. as perguntas serem elaboradas de forma direta e clara (para não causar dúvidas de interpretação);
  4. ser evitado o recurso a perguntas com reposta de escolha múltipla, porque se tornam confusas, dada a proximidade do significado;
  5. ser potenciada a nitidez das imagens ligadas às perguntas;
  6. o espaçamento entre as linhas ser de 1.5, o tamanho da letra 12, e atender-se à clareza da letra (ex: tipo arial);
  7. possibilidade de tirar dúvidas sobre o que realmente está em causa/o que é pedido (durante as provas)
  8. na condução, possibilidade de usufruir de repetição da ordem dada/ou serem as ordens dadas de forma pausada (pelo examinador) para a/o examinanda/o assimilar e poder prosseguir melhor na realização do exame;
  9. possibilidade de colocar dísticos (exemplo: as palavras direita/esquerda, escritas em setas, coladas no carro, imediatamente à frente do seu olhar, para leitura e cumprimento de ordem dada, sem erro ou hesitação;
  10. outras medidas facilitadoras de uma melhor prestação, dialogadas com a/o examinanda/o, nas aulas de preparação.

Tratando-se de pessoas inteligentes e de grande eficácia em alguns domínios, no seu “envolvimento geral”, os disléxicos precisam de “ajudas para prevenir/evitar o erro” que o seu cérebro tem tendência a fazer.

Ditam estas adaptações o seu direito de cidadania plena; ditam-nas o nosso dever de reconhecimento do investimento e do esforço que fazem, a constatação das suas elevadas capacidades em domínios que não impliquem sinalética e processamento auditivo pronto/rápido. Estas pequenas “ajudas” constituem a forma adequada de os envolver, reconhecendo o seu mérito na resistência, na originalidade e criatividade.

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